2 de setembro de 2012

A adoração em espírito e em verdade. “O Pai procura adoradores em espírito e em verdade” (Jo 4, 23).


A DIVINA EUCARISTIA
Escritos e Sermões de São Pedro Julião Eymard

A adoração eucarística tem por objeto a Pessoa Divina de Nosso Senhor Jesus Cristo, presente no Santíssimo Sacramento, que aí está vivo, desejando ouvir-nos falar-lhe e falar-nos também.

Todos podem falar a Nosso Senhor. Não está Ele aí para todos? E não nos diz Ele: “Vinde todos a mim?” E esse colóquio entre a alma e Nosso Senhor é a verdadeira meditação eucarística, é a adoração.

Todos recebem a Graça inerente. Mas, para alcançar êxito e evitar a rotina, ou a aridez do espírito e do coração, é mister inspirarem-se os adoradores seja na Graça que os atrai, seja nos diversos Mistérios da Vida de Nosso Senhor, da Santíssima Virgem ou nas virtudes dos santos. Assim poderão honrar e glorificar o Deus da Eucaristia pelas virtudes de sua Vida mortal, bem como pelas virtudes de todos os Santos, de quem Ele foi a graça e o fim, e é hoje a coroa de glória.

Considerai a hora de adoração que vos cabe como uma hora celestial; ide a ela como iríeis ao Céu, ou ao banquete divino, e então será desejada e acolhida com alegria. E que vosso coração suspire suavemente por ela, dizendo: “Daqui a quatro horas, duas horas, a uma hora apresentar-me-ei à audiência de graça e de Amor de Nosso Senhor; Ele convida-me, espera-me, deseja-me”.

Se a hora pesar à natureza, regozijai-vos tanto mais. Por ser mais sofredor, vosso Amor será maior. É a hora privilegiada que contará por duas.

Quando, por enfermidade, por doença ou por impossibilidade, não puderdes fazer a adoração, deixai que vosso coração se entristeça um instante e depois, uni-vos em espírito àqueles que adoram nesse momento; começai vós também a adorar. No leito de sofrimento, em viagem, entregues ao trabalho do momento, guardai nessa hora um recolhimento maior e o fruto será o mesmo que se tivésseis estado aos pés do divino Mestre. Tal hora vos será contada, talvez até dobrada.

Apresentai-vos a Nosso Senhor tal qual sois. [...] Lembrai-vos, no entanto, que o bom Mestre prefere a pobreza de nosso coração ao pensar alheio, por mais sublime que seja.

Acreditai que Nosso Senhor quer o nosso coração, e não o do próximo, e deseja que tanto o pensamento como a oração desse mesmo coração sejam a expressão natural do Amor que lhe temos. Não querer chegar-se a Nosso Senhor com a miséria que nos é própria, ou a pobreza humilhada, é muitas vezes fruto de um amor-próprio sutil, da impaciência ou do temor. E, todavia, Nosso Senhor prefere isto a tudo o mais, a isto ama e abençoa.

Na aridez, glorificai a Graça de Deus, sem a qual nada podeis. É o momento de abrir a alma ao Céu, como a flor seu cálice ao sol nascente, a fim de gozar do orvalho benéfico. Na impotência radical do espírito, nas trevas, com o coração vergado sob o peso de seu nada, com o corpo sofrendo, fazei a adoração do pobre. Saí da vossa pobreza e ide permanecer em Nosso Senhor, ou então oferecei-lhe vossa pobreza para que a enriqueça. É obra-prima digna de sua glória.

Nas tentações e na tristeza, quando tudo em vós se revolta e vos leva a abandonar a oração, sob o pretexto de que ofendeis a Deus, que o menosprezais em vez de servi-lo, afastai essa tentação especiosa. É a adoração do combate, da fidelidade a Jesus contra vós mesmos. Não, não sois de modo algum desagradáveis a Jesus. Vosso Mestre está a vos olhar e alegra-se, Ele que permitiu a Satanás perturbar-vos. De nós espera a homenagem da perseverança até o derradeiro minuto do tempo que lhe devemos consagrar. Que a confiança, a simplicidade e o amor levem à adoração.

II

Quereis ser feliz no amor? Vivei continuamente da Bondade de Jesus Cristo, sempre nova para vós. Vede em Jesus seu Amor operando em vós. Contemplai a beleza de suas virtudes e a luz de seu Amor, de preferência ao seu ardor, pois o fogo do amor passa rapidamente, enquanto a verdade permanece.

Que o ato de amor dê início a toda adoração e abrireis então, de modo delicioso, vossa alma à ação divina. Se começardes por vós, ou por outra qualquer virtude que o amor, não podereis continuar, ou errareis o caminhos. O filho, antes de obedecer, acaricia a mãe. O amor constitui a única entrada do coração.

Quereis ser nobres no amor? Falai ao Amor dele mesmo, falai a Jesus de seu Pai Celeste, que Ele tanto ama, falai-lhe dos trabalhos a que se aplicou pela sua glória, e então regozijareis seu Coração, e Ele vos amará cada vez mais.

Falai a Jesus do Amor que tem aos homens e seu Coração se dilatará de júbilo e de alegria, assim como o vosso. Falai-lhe de sua Santa Mãe, que Ele tanto amou, e lhe lembrareis sua felicidade enquanto Filho dedicado. Falai-lhe de seus Santos e glorificareis a Graça que neles derramou.

O verdadeiro segredo do amor está, pois, em se esquecer, com João Batista, a fim de exaltar e glorificar a Jesus Senhor nosso. O amor fiel não olha para o que dá, e sim para o que merece o bem-amado. Então Jesus, satisfeito, falar-vos-á de vós mesmos e dir-vos-á o Amor que vos tem. E, qual a flor úmida, esfriada pelo ar da noite, se abre aos raios do astro do dia, assim vosso coração se abrirá aos raios desse sol divino. Sua voz suave penetrará em vossa alma, como o fogo num corpo simpático. Direis com a Esposa dos Cânticos: “Minha alma se liquefez de felicidade à voz do bem-amado”. E ouvi-lo-eis em silêncio, ou antes, pelo ato mais doce e mais forte do Amor, chegar-vos-eis a Ele...

O que mais tristemente contraria o desenvolvimento da graça do Amor em nós é que, apenas chegando aos pés do bem Mestre, logo falamos de nós mesmos, de nossos pecados, de nossos defeitos, de nossa pobreza espiritual. E cansamo-nos o espírito contemplando nossas misérias, contristamos nosso coração pensando em nossa ingratidão e infidelidade. A tristeza traz consigo mesmo o pesar, e o pesar, o desânimo. Só a custo de humildade, de dor, de sofrimento, poder-se-á sair desse labirinto, para recobrar a liberdade, perante Deus.

Peço-vos proceder de outra maneira, e já que o primeiro movimento da alma determina, em geral, a obra inteira, quero que este seja para Deus. Dizei-lhe: “Ó meu bom Jesus, como estou feliz e contente de vir visitar-vos, de passar convosco uma hora inteira e dizer-vos meu amor. Que Bondade a vossa de me terdes chamado, e como sois amável de amar uma criatura tão pobre como eu. Ah! Sim, desejo ardentemente amar-vos”. O amor, então, abre-vos a porta do Coração de Jesus, entrai, amai, adorai.
III

Para fazer bem a adoração, é preciso lembrar-se de que Jesus Cristo, presente na Eucaristia, glorifica e continua todos os Mistérios, todas as virtudes, de sua Vida terrena; que a Santa Eucaristia é Jesus Cristo passado, presente e futuro, o supremo desenvolvimento da Encarnação e da Vida mortal do Salvador; que Jesus Cristo aí nos dá todas as graças; que todas as verdade terminam na Eucaristia e que quem diz Eucaristia diz tudo, pois diz Jesus Cristo.

Seja, portanto, a Santíssima Eucaristia nosso ponto de partida na meditação dos mistérios, das virtudes e das verdades da religião, de que é o centro, enquanto as verdades são tão-somente os raios. Partamos do centro e forçosamente havemos de irradiar.

Haverá algo de mais simples do que comparar o nascimento de Jesus no presépio com seu nascimento sacramental no Altar e nos corações? Quem não vê a Vida escondida de Nazaré se continuar na Hóstia Santa do Tabernáculo e a Paixão do Homem-Deus sobre o Calvário se renovar no Santo Sacrifício a todo momento e em todos os lugares do mundo? Não está Nosso Senhor tão manso e humilde no Sacramento como em sua Vida mortal? Não é sempre o mesmo Bom Pastor, o Consolador divino, o Amigo dos corações? Feliz da alma que sabe encontrar Jesus na Eucaristia, e na Eucaristia todas as coisas!


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