31 de agosto de 2012

AVE, MARIS STELLA


Ave, do mar Estrela,
De Deus Mãe tão bela,
Sempre Virgem, da morada
Celeste feliz entrada.

Ó tu que ouviste da boca,
Do Anjo a saudação;
Dá-nos paz e quietação;
E o nome de Eva troca.

As prisões aos réus desata.
E a nós cegos alumia;
De tudo que nos maltrata
Nos livra, o bem nos granjeia.

Ostenta que és Mãe, fazendo
Que os rogos do povo seu
Ouça aquele que, nascendo
Por nós, quis ser Filho teu.

Ó Virgem especiosa,
Toda cheia de ternura,
Extintos nossos pecados,
Dá-nos pureza e brandura.

Dá-nos uma vida pura,
Põe-nos em via segura,
Para que a Jesus gozemos,
E sempre nos alegremos.

A Deus Pai veneremos;
A Jesus Cristo também.
E ao Espírito Santo; demos
Aos três um louvor. Amém.

21 de agosto de 2012

A voz da Igreja que canta suavemente

Da Constituição Apostólica Divino aflatu, de São Pio X, papa
São Pio X, papa

     Compostos por divina inspiração, os salmos colecionados na Sagrada Escritura foram desde os inícios da Igreja empregados, como se sabe, não apenas para alimentar maravilhosamente a piedade dos fiéis que ofereciam sempre a Deus o sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que louvam seu nome (cf. Hb 13,15; Os 14,3); mas também, como já era costume na antiga Lei, para ocupar lugar eminente na sagrada liturgia e no ofício divino. Daí nasceu, na expressão de Basílio, “a voz da Igreja” e a salmodia. Salmodia que é “filha de sua hino dia, que sempre a Igreja canta diante do trono de Deus e do Cordeiro”, como expõe nosso predecessor Urbano. Assim a Igreja ensina aos homens particularmente devotados ao culto divino, conforme as palavras de Atanásio, “de que modo se deve louvar o Senhor e com que palavras dignamente” confessá-lo. A este respeito disse muito bem Agostinho:“Para ser bem louvado pelo homem, Deus mesmo se louvou; e, aceitando louvar-se, deu ao homem encontrar o modo de louvá-lo”.

     Além disto, nos salmos há uma maravilhosa força para despertar nos corações o desejo de todas as virtudes. Pois, “embora toda a nossa Escritura, tanto a antiga quanto a nova, seja inspirada por Deus e útil para a instrução, como está escrito (cf. 2Tm 3,16), o livro dos salmos porém, semelhante a um paraíso, que contém em si os frutos dos demais livros, produz o canto, e, ainda mais, oferece seus próprios frutos unidos aos dos outros durante a salmodia”. Essas palavras são novamente de Atanásio, que acrescenta: “A mim me parece que os salmos são como um espelho para quem salmodia, onde este se contempla a si e os movimentos de seu espírito, e, assim impressionado, os recita”. Também diz Agostinho nas Confissões: “Como chorei por causa de teus hinos e cânticos, vivamente comovido pelas suaves palavras do canto de tua Igreja! As palavras fluíam em meus ouvidos e instilava-se a verdade em meu coração, fazendo arder a piedade; corriam-me as lágrimas e sentia-me bem com elas”.

   Na verdade, a quem não comovem aquelas freqüentes passagens dos salmos onde se canta profundamente a imensa majestade de Deus, a onipotência, a indizível justiça,a bondade ou a clemência e todos os outros infinitos louvores? A quem não inspiram iguais sentimentos as ações de graças pelos benefícios recebidos de Deus, ou as humildes e confiantes preces pelo que se deseja, ou os clamores do arrependimento dos pecados? A quem não inflama a cuidadosamente velada imagem do Cristo Redentor “cuja voz ouvia Agostinho em todos os salmos a salmodiar, a gemer, a alegrar-se na esperança ou a suspirar pela realização?”


Vocacionalizar

    Já tradicionalmente agosto é chamado de Mês Vocacional, período de reflexão e oração intensa pelas vocações. Durante este período devemos buscar um aprofundamento da consciência e da responsabilidade de todos quanto ao chamamento de Deus. Na medida do possível, as comunidades poderiam ampliar suas atividades buscando uma maior divulgação e reflexão sobre o referido assunto.

     Pensando nisto, a CNBB lançou no início deste mês o site da Pastoral Vocacional Nacional, querendo ser um instrumento de divulgação das atividades e notícias dos Regionais e Dioceses, um ponto de confluência para divulgação de materiais que auxiliem na preparação de atividades e na dinamização da PV/SAV e um ponto de encontro de todos os animadores e animadoras vocacionais do Brasil. Tem-se, sem dúvida, a consciência da importância da dimensão e do trabalho vocacional para toda a Igreja. Desde o Concílio Vaticano II até aqui foram muitas as conquistas e atividades, tantos avanços e inúmeras alegrias.

Não nos esqueçamos de rezar veemente pelas vocações!

Fonte: PV Brasil

19 de agosto de 2012

A FÉ e o SIM ao chamado de Deus

MARIA e a VOCAÇÃO 
Ler Lucas 1, 26-38: Anunciação – Encarnação 

     Estamos no mês de agosto, o Mês Vocacional, e queremos refletir um pouco sobre a VOCAÇÃO de Maria e a nossa. 
     O mistério da Encarnação do Filho de Deus é um dos maiores mistérios da nossa fé. E o texto de Lucas deve nos ajudar a refletir sobre o mistério divino e humano da nossa vocação. 
     “O Anjo disse: Não temas, Maria! Deus te oferece a sua graça ” (v. 30), 
     Sempre que recebemos uma vocação especial temos medo; do sacerdócio, do matrimônio, de uma nova missão ou profissão... 
    Este medo pode ser sinal de covardia, ou de responsabilidade. Os covardes analisam as conseqüências e desistem dizendo NÃO a Deus. 
     Os responsáveis analisam e enfrentam com coragem dando o seu SIM decidido e generoso. 
   Assim fez Maria confiante na Palavra de Deus: “Ele te dá sua força!”. Pela fé MARIA disse SIM. 
     Que Maria seja nosso exemplo para dar o nosso SIM e cumprirmos com fidelidade os compromissos assumidos no matrimônio, na maternidade ou paternidade, no sacerdócio, na vida consagrada... Também nós, se somos chamados podemos contar com a graça, com a força, com a bênção de Deus. 
     Quando os compromissos são indissolúveis, como os do(a) religioso(a), do(a) esposo(a), do diácono, do padre, do bispo, eles dizem: O meu compromisso é para sempre, nunca voltarei atrás! 
     Portanto que o nosso SIM, como o de Maria, seja repleto de amor e de alegria, mesmo no meio das dificuldades e sofrimentos. 
     Pelo SIM de Maria a humanidade recebeu o Salvador, a vida humana recuperou seu sentido, sua alegria, sua esperança. 
     Que pelo SIM generoso dos homens e mulheres o mundo se renove na esperança e no amor de Deus, para que tenhamos “novos céus e nova terra, um mundo onde reine a justiça” (2Pd 3,13). 
     Que Maria nos alcance de Deus a coragem de responder SIM aos chamados de Deus, e a força e a alegria de assumir e viver em plenitude a vocação recebida.

Dom José Maria Maimone 
1º Bispo de Umuarama 

Porque rezar pelas Vocações?

     Para responder a esta pergunta, quero primeiramente tentar explanar o tema da oração. Logo quando pensamos em rezar nos vem à mente alguma prática piedosa de contato com o Transcendente. Alguma novena, algum terço ou outras maneiras de aproximarmo-nos de Deus. Acredito que tudo seja válido. No entanto, a oração é mais que isto.
     Os santos muito nos inspiram e ajudam a compreender o que é a oração, já que fizeram verdadeiras experiências de vida oracional. A Doutora da Igreja, Terezinha do Menino Jesus, nos indica que a “oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e amor no meio da provação ou no meio da alegria”. Já para João Damasceno a oração “é a elevação da alma a Deus ou o pedido a Deus dos bens convenientes”. Santo Agostinho nos ajuda neste tema da oração lembrando que “é o encontro entre a sede de Deus e a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede dele”. Ainda mais contemporânea, Chiara Lubich (Fundadora do Movimento dos Focolares) nos insere na realidade da oração indicando “que é diálogo, comunhão, relação intensa de amizade… é escolher Deus como único ideal, como o tudo de nossa vida… é dizer-lhe sinceramente: ‘Meu Deus e meu tudo’; ‘Eu te amo’; ‘Sou inteiramente teu, inteiramente tua’; ‘És Deus, és meu Deus, o nosso Deus de amor infinito!’”
     Como vimos, rezar é estabelecer o diálogo sincero. É estar-permanecer-ficar com Deus, assim como se tem vontade de estar com um amigo. Deus é o amigo da humanidade que se compadece, olha com a misericórdia, elevando-nos e indicando a contemplarmos a Sua Vontade.
     Se chegamos (com a ajuda das testemunhas do Reino que já contemplaram a face do Cristo, Bom Pastor, Amigo da humanidade) a conclusão de que a oração é o diálogo que mais agrada a Deus, pois nos lança na experiência manifestarmos nossa confiança Nele através de nossos pedidos, de exaltá-Lo pela nossa gratidão e de louvar-reverenciar Aquele que revelou a alegria de conviver e partilhar uma experiência que se estende ao mundo inteiro, pois é pautada na liberdade de abandonar-se e entregar-se unicamente ao nosso Amor Indivisível, então somos convidados a cultivar esta relação que fomos chamados a viver.
     No Evangelho de São Mateus, no capítulo 9, versículos 36-38 nos indica o seguinte texto: “Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: “A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que envie trabalhadores para sua colheita!” Jesus vê a realidade do povo, é movido interiormente pela situação e nos faz um apelo: “Pedi, pois, ao Senhor da colheita…”. Quem ao pedido de um amigo (muito caro) não se colocaria à disposição? Ainda mais sendo algo que podemos (não nos custa) fazer? Se compreendemos a oração como amizade com Deus e este amigo nos faz um pedido, então, mais do que nunca devemos estar atento a corresponder com esta ação de petição.
     Aqui já teríamos razão suficiente para fazer de nossa vida uma existência voltada para este pedido do Amigo da Humanidade. Rezar pelas vocações (pelos que virão, pelos que estão respondendo e pelos que já responderam).
     Além disso, como não somos inertes no mundo, percebemos a plena realidade que nos circunda. Mediante a tantos apelos que nos provocam reconhecemos que nosso povo ainda “caminha como ovelhas sem pastor” (Mc 6,30) e que sedento busca a “fonte de água viva” (Jo 4,10). Hoje temos pessoas que avaliando e percebendo o testemunho que quem já provou desta água também quer experimentar “a água que se tornou dentro dele (vocacionado) fonte que jorra para a vida eterna” (Jo 4, 14), pois a vida se transforma, toma nova dimensão, novo caminho, novo rumo. Encontramos a via: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), e nos aproximamos daquele que é o modelo no seguimento. Configuramo-nos a Ele, queremos ser e viver Nele.
     Meditante a necessidade de mais pessoas autênticas em viver a proposta do Reino, pessoas que sejam capazes testemunhar a Vida, de entregar e configura-se, anunciando o “Novo Céu e a nova Terra” (Ap 21,1), é que rezamos pedindo pelas vocações. Lembrando que o Batismo nos abre para a proposta vocacional, pedimos por todos, para que nossa Igreja seja mais comprometida. Para que nossas comunidades sejam um reflexo do Amor de Deus. Para que o mundo seja uma fonte de esperança. E, para que, sejamos abertos, disponíveis e prontos na nossa resposta generosa ao diálogo de Amor que Deus estabelece com o ser humano, pois a vocação é justamente este diálogo.
Assim, a necessidade de se rezar pelas vocações é um cumprimento evangélico e um olhar atento à realidade.
     “Amigo da Humanidade, vós sois o Cristo, o Bom Pastor! Tomai-nos ao vosso serviço, nós que vimos a verdadeira luz” (CD Luz da Luz – faixa 16 – Frei José Moacyr Cadenassi). Que Jesus seja nossa inspiração para pedirmos ao Pai pessoas que estejam dispostas a assumir o Reino com sua vida, pois “a messe é grande e os trabalhadores são poucos”.

Pe. Valdecir Ferreira
Assessor PV/SAV – Regional Sul 2

18 de agosto de 2012

Reunião do CONDIF e conversa com Dom João

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Foto oficial do dia 17

Durante a manhã do dia 16, o CONDIF (Conselho Diocesano de Formadores) esteve reunido em Maringá, no Seminário Diocesano de Filosofia, para uma reunião própria e regular, a fim de discutirem a formação dos Seminaristas da diocese. 

A reunião foi finalizada com o almoço. Em seguida, os padres formadores voltaram às suas casas, a não ser Dom João, que permaneceu no Seminário até sábado de manhã e que, durante a tarde de sexta-feira (dia 17), conversou pessoalmente com os seminaristas e também lhes informou sobre as atuais noticias da diocese, seus planos e pareceres. 

O principal assunto tratado foi sobre as Santas Missões Populares e a Associação dos Municípios do Entre Rios (AMERIOS), encerrando-se o encontro com a celebração da Santa Missa. Dom João também esteve junto com os Seminaristas nas refeições e orações, sempre partilhando seus ensinamentos.

16 de agosto de 2012

Antes morrer do que pecar


Trechos da vida do Jovem Domingos Sávio

Proponho-me relatar neste capítulo alguns feitos que apenas se acreditaria se a veracidade e o caráter de quem os afirma não excluísse todo gênero de dúvida. Incluo a mesma relação que o capelão de Murialdo teve a atenção de dirigir-me por escrito sobre este aluno seu muito querido.
Disse assim:
“Nos primeiros dias que cheguei a estes arredores, via com frequência um menino de cinco anos de idade que vinha à igreja em companhia de sua mãe. A seriedade de seu semblante, a compostura de seu comportamento e sua atitude devota chamaram a atenção minha e de todos.
Se ao chegar à igreja a encontrasse fechada, se produzia um espetáculo realmente esplêndido. Em vez de correr de um lado para outro e alvoroçar como fazem os meninos de sua idade, aproximava-se do umbral da porta, e ali, posto de joelhos, com a cabeça inclinada e juntas as mãos sobre o peito, rezava fervorosamente até que abriam a igreja. Tenham em conta que, às vezes, o terreno estava embarreado, ou que chovia ou nevava; mas a ele nada importava, e se colocava igualmente a rezar de joelhos.
Maravilhado e movido de piedosa curiosidade, quis saber quem era aquele menino, e soube que era filho do ferreiro, chamado Carlos Sávio.
Quando me via na rua, começa desde longe a dar sinais de particular alegria, e com semblante verdadeiramente angelical se adiantava respeitosamente a saudar-me. Logo que começou a frequentar a escola, como estava dotado de muito talento e era muito diligente no cumprimento de seus deveres, fez em breve tempo notáveis adiantamentos nos estudos.
Obrigado a tratar com os meninos desobedientes e dissipados, jamais sucedeu que riu com eles; suportava com grande paciência as ofensas dos companheiros e apartava-se discretamente quando presumia que podia se suscitar alguma disputa. Não recordo tê-lo visto jamais tomar parte em jogos perigosos nem causar na classe a mais insignificante desordem; antes bem, convidado por alguns companheiros a ir fazer chacotas das pessoas idosas, a atirar pedras, a roubar fruta ou a causar outros danos no campo, sabia desaprovar delicadamente sua conduta e se negava a tomar parte em tão repreensíveis diversões.
A piedade que havia demonstrado rezando até nos umbrais da porta da igreja não diminuiu com a idade. Aos cinco anos havia já aprendido a ajudar na missa, e fazia com muitíssima devoção. Ia todos os dias à igreja, e se outro queria nela ajudar, a ouvia com a mais edificante compostura. Como, por causa de seus poucos anos, apenas podia trasladar o missal, era gracioso vê-lo aproximar-se do altar, colocar-se de pontas de pés, estender os braços ao máximo que podia e fazer todos os esforços possíveis para chegar ao atril (ambão). O sacerdote ou os assistentes lhe davam o maior prazer do mundo se, em vez de trasladar o missal, aproximassem-no de modo que pudesse ele alcançá-lo; então, gozoso, o levava ao outro lado do altar.
Confessava-se frequentemente, e não bem soube distinguir o pão celestial do pão terreno, foi admitido à santa comunhão, que recebeu com uma devoção verdadeiramente extraordinária. Em vista da obra admirável que a divina graça ia realizando naquela alma inocente, me diziam muitas vezes: ‘Há aqui um menino de grandes esperanças! Queira Deus que cheguem à maturidade tão preciosos frutos!’”
Até aqui o capelão de Murialdo.

Nada faltava a Domingos para que fosse admitido à primeira comunhão. Sabia já de memória o pequeno catecismo, tinha conhecimento suficiente deste augusto sacramento e ardia em desejos em recebê-lo. Somente se opunha a idade, posto que nas aldeias não se admitia, por regra, os meninos à primeira comunhão antes dos doze anos completos. Domingos apenas tinha sete e, além da pouca idade, por seu corpo miúdo ainda parecia mais jovem; de sorte que o padre não se decidia em aceitá-lo. Quis saber também o parecer de outros sacerdotes, e estes, tendo em conta sua precoce inteligência, sua instrução e seus vivos desejos, deixaram de lado todas as dificuldades e o admitiram para receber pela primeira vez o pão dos anjos.
Indizível foi o gozo que inundou seu coração quando lhe disseram esta notícia. Correu à sua casa e a anunciou com alegria a sua mãe. Desde aquele momento passava dias inteiros em oração e na leitura de bons livros; e ficava longos momentos na igreja antes e depois da missa, de modo que parecia que sua alma habitava já com os anjos do céu.
Na véspera do dia assinalado para a comunhão foi à sua mãe e lhe disse:
−Mamãe, amanhã vou fazer minha primeira comunhão; perdoe-me você todos os desgostos que lhe dei no passado; eu lhe prometo portar-me muito bem de hoje em diante, ser aplicado na escola, obediente, dócil e respeitoso a tudo ao que você me mande.
E, dito isto, se colocou a chorar. A mãe, que dele só havia recebido consolos, sentiu-se comovida e, contendo a duras penas as lágrimas, o consolou dizendo-lhe:
−Vá tranqüilo, querido Domingos, pois tudo está perdoado; peça a Deus que te conserve sempre bom e roga também por mim e por teu pai.
Na manhã daquele dia memorável levantou-se muito cedo e, vestido de sua melhor roupa, foi à igreja; porém como a encontrou fechada, se ajoelhou no umbral da porta e se colocou a rezar, segundo seu costume, até que, chegando as outras crianças, abriram a porta. Com a confissão, a preparação e ação de graças, a função durou cinco horas.
Domingos foi o primeiro que entrou na igreja e o último que saio dela. Em todo este tempo não sabia se estava no céu ou na terra. Aquele dia foi sempre memorável para ele, e pode considerar-se como verdadeiro princípio ou, melhor, continuação de uma vida que pode servir de modelo a todo fiel cristão.
Alguns anos depois, falando-me de sua primeira comunhão, se animava ainda seu rosto com a mais viva alegria.
−Ah! – costumava dizer –, foi aquele o dia mais esplêndido e grande de minha vida.
Escreveu em seguida algumas recordações que conservou cuidadosamente em seu devocionário e as lia frequentemente. Vieram depois às minhas mãos, e as incluo aqui com toda a simplicidade da original. Eram do seguinte teor:
Propósitos que eu, Domingos Sávio, fiz no ano 1849 em ocasião de minha primeira comunhão, aos sete anos de idade:
1º Me confessarei muito frequentemente e receberei a sagrada comunhão sempre que o confessor me permita.
2º Quero santificar os dias de festa.
3º Meus amigos serão Jesus e Maria.
4º Antes morrer do que pecar.

Estas lembranças, que repetia frequentemente, foram a norma de seus atos até o fim de sua vida.
Se entre os leitores deste livro se ache algum que não tenha recebido ainda a primeira comunhão, eu o rogaria encarecidamente que se propusesse imitar Domingos Sávio. Recomendo sobretudo aos pais e mães de família e a quantos exercem alguma autoridade sobre a juventude, que dêem maior importância a este ato religioso. Estai persuadidos que a primeira comunhão bem feita põe um sólido fundamento moral para toda a vida. Difícil será encontrar alguma pessoa que, havendo cumprido bem tão solene dever, não tenha levado boa e virtuosa vida.
Pelo contrário, contam-se a milhares os jovens rebeldes que enchem de amargura e desolação seus pais, e, se bem se observa, a raiz do mal está na escassa ou nenhuma preparação com que têm feito sua primeira comunhão. Melhor é deferi-la ou não fazê-la do que fazê-la mau.

São João Bosco

FONTE: Obras Fundamentales de San Juan Bosco

Tradução de Bruno Raphael da Cunha Dobicz

Após as Olimpíadas, atleta ingressará no Seminário

Carlos Ballve
     Um atleta da delegação olímpica espanhola decidiu consagrar a sua vida a Deus e vai entrar para o seminário assim que terminar sua participação nos Jogos de Londres. De acordo com a Catholic New Agency, Carlos Ballve, jogador de hóquei em campo, participa pela primeira vez das Olimpíadas e espera aproveitar esta “experiência incrível e preciosa” para “ganhar” mas também “para crescer na vivência da fé e na partilha de Deus com pessoas vindas de todas as partes do mundo”.
     O final da prova olímpica vai marcar o início da sua caminhada para o sacerdócio, num seminário na Bélgica, depois de um período de discernimento iniciado em 2005. No Verão desse ano, a sua vida mudou radicalmente, enquanto estava num campeonato do mundo na categoria de sub-21. A sua equipe “começou muito mal” a competição e Carlos decidiu “assumir um compromisso com Deus”.
     O jovem disse a Deus que “se ajudasse a equipe a melhorar a sua prestação” ele iria até Medjugore (pequena região da Bósnia Herzegovina onde alegadamente ocorreram aparições de Nossa Senhora) em peregrinação com o pai. A sua seleção “fez história”, conquistou uma inédita “medalha de bronze” e o atleta cumpriu a sua promessa.
     No entanto, apesar do reforço que aquele episódio trouxe à sua fé, “alguma coisa dentro de si dizia-lhe” que faltava algo mais à sua vida, “era livre mas não era feliz”. E foi assim que, mesmo no auge da sua carreira, Carlos Ballve decidiu parar e partir em busca de Deus.
     A organização dos Jogos de Londres, que se concluem a 12 de agosto, reservou espaços inter-religiosos de oração e silêncio para os 16 mil atletas de mais de 200 países, incluindo Portugal. O centro interconfessional da aldeia olímpica inclui mais de 50 clérigos cristãos, judeus, muçulmanos, budistas e hinduístas, entre outros, para "oferecer apoio, cuidado pastoral e ajuda espiritual”, bem como vários momentos de celebração e encontros de grupo, refere o site do evento.

Fonte: POM

12 de agosto de 2012

Seminaristas realizam Retiro Espiritual

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Neste fim de semana (10, 11 e 12), os seminaristas da casa de filosofia estiveram em retiro, no Centro de Espiritualidade e Formação Rainha da Paz, das Irmãs Missionárias do Santo Nome de Maria (IMSNM), na cidade de Maringá-PR.

O retiro seguiu a linha de espiritualidade inaciana (Santo Inácio de Loyola) e teve início às 8h do dia 10 e término às 17h do dia 12. As colocações foram feitas pela Irmã Katharina (IMSNM), alternadas por momentos de meditações de textos bíblicos e conversas particulares. Houveram também missas diárias, sendo realizadas nos dois primeiros dias pelo diretor espiritual do seminário, Mons. Wilson Galiani, disponível também para confissões; e a de encerramento, presidida pelo pe. Lailson, reitor do Seminário, na qual foram feitos agradecimentos, juntamente com uma lembrança dos seminaristas e formadores à Ir. Katharina.

9 de agosto de 2012

Imitai os vossos mestres...

Por: Bruno Raphael da Cunha Dobicz - Graduando em Filosofia (PUCPR) - 2º Ano

1 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PENSAMENTO DE SÃO BOAVENTURA


Intitulado como “Doctor Seraphicus”, São Boaventura figura entre os grandes filósofos da Idade Média, cujo pensamento representa importante pilar para a filosofia ocidental. A vitalidade e consistência de sua obra influenciaram os debates em torno das problemáticas medievais e continua a influenciar, mesmo que indiretamente, as considerações filosófico-teológicas contemporâneas.
Sua obra é vasta e tem como guia a doutrina franciscana, a qual é vinculado como sétimo sucessor de São Francisco na direção da Ordem. Não abandona os princípios a que se subordina, mas são estes que o orientam, utilizando-os para a formulação de questões que abrangem tanto a filosofia como a teologia, cujo fim é estabelecer um contrapeso à tendência intelectual e religiosa de sua época.
A totalidade de seu pensamento, em síntese, perpassa a ascensão do homem até a contemplação beatífica de Deus, mediante o conhecimento filosófico vinculado ao teológico, tendo como caminho um movimento de especulação que parte “do espelho da natureza, de onde se contempla o poder de Deus, sua sabedoria e sua bondade” (BOUGEROL, 1984, p. 252), sendo que “este movimento se faz de três modos: considerando as coisas em si mesmas através de uma reflexão racional, vendo-as com os olhos da fé e descobrindo, pela especulação, a Deus presente no seio de todas as coisas” (BOUGEROL, 1984, p. 252-253).
Portanto, Boaventura estabelece um caminho para se chegar a Deus, cujo percurso, necessariamente, passa pela ciência filosófica e pelo ato de fé teológico, representado nas seis asas do Serafim ou figurado na escalada dos degraus que conduzem à Sabedoria. Estabelece, assim, que a filosofia é um caminho para as outras ciências, ou melhor, um prólogo e instrumento para tal (REALE; ANTISERI, 1990, p. 579). Quanto à teologia, todos os conhecimentos a ela conduzem. Nas palavras de insigne filósofo, “quando a inteligência considera o mundo com os olhos da fé, descobre-lhe então a origem, o curso e o termo. Com efeito, a fé nos revela que o mundo teve uma origem pelo Verbo da vida” (BOAVENTURA, 1999, p. 301).

2 RELAÇÃO ENTRE AS CIÊNCIAS FILOSÓFICA E TEOLÓGICA

O pensamento desenvolvido por São Boaventura engloba dois aspectos importantes, realçando a posição medieval de buscar, através do conhecimento e da especulação filosófica o sentido da existência humana, do cosmos e da realidade natural, cujo sentido é encontrado, em instância última, em Deus.
Deste modo, o desenvolvimento intelectual na Idade Média considerou primordialmente os estudos de filosofia e teologia, sendo que os autores deste período depositaram maior relevância na primeira ou na segunda, ou em ambas, como caminho para a explicação das problemáticas e compreensão do sentido da existência, radicado na Sapiência Trinitária.
São Boaventura, inserido no cenário histórico do século XIII e integrante da Ordem Franciscana, busca utilizar a fé como elemento primordial e irrevogável para se chegar ao conhecimento da Verdade. Conjuntamente à Ordem Franciscana destaca-se a Ordem Dominicana, consideradas as principais propagadoras das ciências e do conhecimento de sua época.
Contudo, segundo São Boaventura “os pregadores (dominicanos) se entregam principalmente a especulação, dela que tem recebido seu nome, e depois à devoção; os menores (franciscanos) se entregam principalmente a devoção e depois à especulação” (BRÉHIER, 1988, p. 521). Assim, se percebe e compreende as linhas mestras que guiam toda a sua doutrina, pois buscava “conciliar o ensino doutrinal e racional com a livre espiritualidade franciscana ou, melhor ainda, fazer da doutrina um elemento inseparável dessa iluminação interior em que consiste a vida espiritual” (BRÉHIER, 1988, p. 522).
Sua doutrina visou, em primeiro lugar, contrapor as posições filosóficas que se fortaleciam no momento histórico em que viveu, devido a entrada dos escritos gregos e árabes no Ocidente (BOAVENTURA, 1999, p. 46). Estes, na visão de Boaventura, representavam um perigo:

“[...] o da diluição do pensamento e da vida cristã no caudal das águas aristotélicas. Agostinho, há quase um milênio, havia elaborado uma síntese grandiosa, em que ciência e a vida centralizavam-se na caridade. Boaventura percebia, em seu tempo, que essa unidade encontrava-se ameaçada, e dessa percepção e da preocupação com ela provém o engajamento, e mesmo o caráter polêmico de seus escritos” (BOAVENTURA, 1999, p. 46).

Na tradição platônico-agostiniana, Boaventura desenvolveu o problema das relações entre filosofia e teologia, entre razão e fé. Segundo Giovanni Reale e Dario Antiseri:

“A filosofia de inspiração aristotélica não era capaz de sustentar o esforço de Boaventura para ligar estreitamente os componentes filosóficos com os teológicos, o elemento revelado com o racional. Ele buscava uma filosofia que alimentasse a sua religiosidade, o seu abraço constante com a teologia e o seu misticismo, aquele calor afetivo para o qual cada passo é, ao mesmo tempo, um ato de inteligência e um ato de amor” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 579).

Assim, sustenta Boaventura, como resposta aos problemas de sua época, que não se pode fazer filosofia como os pagãos fizeram, “isto é, abstraindo da encarnação e da redenção de Cristo”, pois “a filosofia é um primeiro passo, mas dela passa-se à teologia e desta à ciência gratuita, para chegar-se enfim à ‘ciência gloriosa’” (BOAVENTURA, 1999, p. 47).
Além disso, compreende-se que “no sistema de São Boaventura a filosofia só pode ter uma finalidade: a de conduzir o homem para Deus. O que só lhe é possível sob a condição de subordinar-se conscientemente à teologia e de deixar-se guiar por ela” (BOEHNER; GILSON, 2007, p. 424).
Contudo, não nega o valor da filosofia. Segundo ele, a filosofia, sujeitando-se à fé, é como uma luz, que orienta o homem ao caminho certo e “vem a ser um degrau no retorno do homem para Deus [...], de sorte que a filosofia não deve ser mais que um ponto de transição” (BOEHNER; GILSON, 2007, p. 426). Portanto, é possível perceber o valor dado ao saber filosófico, conquanto seja co-desenvolvido ao teológico e a ele subordinado; assume, em suma, o papel de condutor do homem à Verdade, mas cabe à teologia levar o homem à contemplação, ao repouso e à paz. De acordo com o santo filósofo “a verdade filosófica nada mais é que o conhecimento certo da verdade enquanto perscrutável, e a ciência teológica é a noção santa da verdade, enquanto crível” (BOAVENTURA, 1999, p. 47).
Pode-se acrescentar que:

“De efeito, a própria fé inclui um elemento que nos concita à especulação, a saber: o amor. Pois a segurança com que o crente adere à verdade baseia-se no ato de fé emitido por amor: nele participam o coração e todo o homem interior. Ora, é precisamente esta caridade que instiga a razão. Pois aquele que crê por amor deseja abraçar com todas as forças da alma o objeto de sua fé, e penetrá-lo com a razão. [...] E assim a filosofia nasce de uma exigência do coração, que aspira a uma compreensão aprofundada do objeto da fé” (BOEHNER; GILSON, 2007, p. 425).

É precisamente em “Redução das ciências à Teologia” que São Boaventura exprime de modo mais direto o seu pensamento de importância dada à teologia. Nesta obra fica evidente que todos os caminhos do saber conduzem unicamente à Verdade – por meio da teologia, sendo que as demais ciências a esta se reduzem. A filosofia, por sua vez, é considerada uma luz interior, cuja explicação pode ser dada por São Tiago: “Toda a dádiva preciosa e todo dom perfeito vem de cima, descendo do Pai das luzes” (Tg 1, 7). Ou seja, é de Deus, por meio da graça iluminativa, que provém a capacidade de participação na Verdade e de conhecer.
Devido ao fato de o homem ser acometido pela limitação provinda do pecado original, tem necessidade da teologia para poder compreender os mistérios inefáveis da Trindade. “Daí a necessidade da Teologia, ou Sagrada Escritura, que é a luz superior, graças à qual o homem é introduzido na verdade da fé (a eternidade e encarnação do Verbo), na dos costumes (a retidão de vida) e na da finalidade (a união do homem à divindade)” (BOAVENTURA, 1999, p. 43).
Em síntese, São Boaventura exprime que todo conhecimento filosófico deve ser alcançado mediante o auxílio da graça divina, segundo a teoria da Iluminação de Agostinho – expressa implicitamente no “Itinerário da mente para Deus” – e, para esta graça, provinda de uma única Fonte – a Verdade – conduzir o homem. A filosofia, unida à fé, por meio do conhecimento teológico, é um caminho que conduz a Deus. Ademais, “esta fé é inabalável e produz uma convicção mais profunda do que qualquer outro conhecimento terreno. Por isso a fé é o ponto de partida para todo conhecimento, inclusive para o conhecimento filosófico” (BOEHNER; GILSON, 2007, p. 425).

3 O ITINERÁRIO PARA A MENTE DE DEUS

No “Itinerário para a mente de Deus”, sua obra mais célebre, São Boaventura descreve o percurso pelo qual aquele que deseja chegar à contemplação e à plenitude deve percorrer, ou seja, a via de se chegar a Deus. É um meio, pode-se dizer, de esforços da vida intelectiva com a contemplativa, cujos frutos vêm sob forma da vida unitiva com Deus.
Em sua doutrina é clara a necessidade de se conhecer à luz da fé. Contudo, também a teologia é considera apenas um “degrau” quando avaliada a união da alma com Deus, pois não deixa de ser uma ciência desenvolvida pela razão humana, mesmo que iluminada pela graça divina. Desta forma, também é passageira, como tudo aquilo que não é eterno e imortal, cujos adjetivos radicam somente em Deus. Assim, afirma-se que:

“O fim último de todo o conhecimento não se encontra, porém, na Teologia; enquanto saber racional, ela também possui caráter transitório. Também a Teologia está condenada a desaparecer, quando o mundo e o homem forem assim como devem ser. A finalidade última da atividade de toda a vida humana é a união com Deus, através do amor. [...] A razão conduz até às portas da mística, e aí silencia, dando luz à graça. Penetrar nos umbrais desde último estágio, da contemplação e do êxtase, não é mais obra ao alcance das forças humanas. Para tanto ‘é preciso conceder pouco à linguagem exterior e muitíssimo à alegria interior; pouco à palavra e tudo ao dom de Deus, que é o Espírito Santo’” (BOAVENTURA, 1999, p. 51).

Portanto, para se chegar ao seio de Deus, Boaventura estabelece um caminho composto por degraus, cujo fim é cumprir a função de elevação da alma ao repouso nos braços do Pai. Elege, para isso, o despojamento completo e abandono em Deus que, mediante a “iluminação dos olhos”, dirige os passos do homem no caminho da paz que ultrapassa todo o sentimento, como se pode ler no prólogo do “Itinerário”.
A elevação da alma é demonstrada figurativamente sob a figura de um serafim com seis asas, as quais simbolizam as seis elevações ou iluminações progressivas que a alma passa, buscando alcançar a paz através da sabedoria. “Tal sabedoria pertence verdadeiramente ao estado místico; começa em conhecimento e acaba em afeição, não havendo limite para a sua intensidade” (BOEHNER, 1956, p. 129).
Segundo São Boaventura, os seis degraus correspondem as seis potências da alma, “pelas quais ascendemos das coisas inferiores às superiores, das exteriores às interiores, das temporais às eternas. São elas: os sentidos, a imaginação, a razão, o entendimento, a inteligência e o ápice da mente, ou a centelha da sindérese (a consciência)” (BOAVENTURA, 1999, p. 298-299).
A subida tem como ponto de partida, nas palavras de Boaventura, o mundo sensível que conduz até Deus, cujo acesso é feito por meio de Jesus Cristo. Neste ponto, “a ascensão até a paz do êxtase só é possível de ser alcançada passando por Cristo crucificado. [...] Neste caminho até Deus há que começar pelo objeto mais acessível, o mundo sensível, que é vestígio de Deus” (BOUGEROL, 1984, p. 251).
O mundo sensível – as criaturas – remete o homem à contemplação da perfeição de Deus, de sua onipotência e onisciência, levando-o a compreender a origem das coisas como obra da divina bondade; a multiplicidade das coisas e a múltipla atividade das criaturas demonstram o poder e a sabedoria de Deus; e, por fim, a ordem mostra que o Criador é soberanamente sapiente e bom.
A contemplação de Deus através dos vestígios de sua obra ocorre de dois modos, que compõem os dois primeiros degraus da escada. Para Boaventura, pode-se considerar Deus de dois modos: “ou elevando-nos a ele por meio dos seres que compõem o universo e que são como que vestígios do Criador, ou contemplando-o existente nos mesmos seres pela sua essência, pela sua potência e pela sua presença” (BOAVENTURA, 1990, p. 305).
Assim:

“É possível vislumbrar, por meio do vestígio, o mistério da Santíssima Trindade. Quando Boaventura fala da contemplação de Deus ‘fora de nós pelos’ e ‘nos’ vestígios, refere-se então à subida progressiva da alma a Deus, por meio das criaturas materiais. Considerar a Deus ‘pelos’ seus vestígios significa contemplá-lo por meio das criaturas, onde reluzem as perfeições divinas. Considerar a Deus ‘nos’ seus vestígios equivale a contemplá-lo, não já no mundo, exterior a nós – onde Deus está latente – mas no mundo que, na sua semelhança intencional, entrou dentro de nós pela porta dos sentidos”.

Progredindo na ascensão, o homem avança mais dois degraus – o terceiro e o quarto – nos quais se interioriza no conhecimento e intimidade com Deus através da contemplação divina por meio de sua imagem impressa nas potências da alma e na sua imagem. Ou seja, o homem abandona as criaturas e as coisas exteriores, e procura a Deus em si, em sua alma.
Em um primeiro momento, a contemplação do primeiro Princípio ocorre passando pela alma; em um segundo ocorre na alma. No primeiro, a alma é ajuda pela filosofia graças à iluminação divina, alcançando o conhecimento da Santíssima Trindade. No segundo, a alma é preferencialmente ajudada pela Sagrada Escritura – teologia – que tem por objeto as obras da salvação e as virtudes teologais, a saber: fé, esperança e caridade.
Compreende-se, portanto, que “por nossa alma chegamos a Deus, de quem ela é imagem e de quem recebe a luz das razões eternas; em nossa alma descobrimos a ação pessoal de Deus recriando nosso ser sobrenatural, e inaugurando assim uma nova relação conosco em uma presença de graça” (BOUGEROL, 1984, p. 252).
A jornada continua a se desenvolver nos degraus seguintes – quinto e sexto – os quais permitem uma experiência contemplativa reservada somente a quem passou pelos vestígios e pela visão de Deus em sua alma. Assim, as asas do serafim se estendem a voar, a alcançar o mais alto vôo na visão beatífica do Sumo Bem.
Estes dois últimos degraus representam a contemplação de Deus sob dois aspectos: o primeiro fixa o nosso olhar principalmente sobre o Ser mesmo, declarando que o primeiro nome de Deus é “Aquele que é” [Ex 3, 14]. No segundo, nosso espírito considera o Bem em sim mesmo, dizendo que também o Bem é o primeiro nome de Deus (BOAVENTURA, 1999, p. 331).
Na compreensão do ser – o conceito que se adquire por meio da filosofia – é possível ascender até a compreensão do Ser absoluto, cuja perfeição reside em si mesmo e dele emanam todas as coisas. Quanto ao Bem, é este o fundamento que designa todos os atributos do Ser. Diz São Boaventura que “assim como o Ser é o princípio radical de todos os atributos essenciais de Deus e seu nome nos conduz ao conhecimento dos demais, assim o Bem é o principalíssimo fundamento sobre o qual devemos apoiar-nos para contemplar as processões” (BOAVENTURA, 1999, p. 338). Em suma, a ideia de Bem é a ideia do Ser que se difunde fora de si mesmo e se dá, nos elevando até a contemplação da Trindade, cuja fecundidade é a expressão última. A admiração capta o pensamento à medida que penetra mais profundamente no mistério do Ser absolutamente simples e subsistente em si mesmo, do Deus de fecundidade inesgotável (BOUGEROL, 1984, p. 253).
Por fim, o homem chega ao conhecimento pleno de Deus após percorrer todos os seis degraus ou elevações. Ali, no cume da Sabedoria, contempla a Deus face a face, cuja experiência é transcendida além dos sentidos ou das expressões. Resta-lhe a expressão serena do Amor, que é Jesus Cristo crucificado. Junta-se a Filipe para dizer: “isto me basta”, pois ali repousa em paz.
Percorrido o itinerário e passado das portas do cenáculo até aos pés do tabernáculo, juntamo-nos ao “Doutor Seraphicus” para dizer, a guisa de conclusão:

“Temos contemplado a Deus fora de nós – por meio de seus vestígios –, dentro de nós – pela semelhança de sua divina luz refletindo-se sobre nossa alma, mas também na mesma luz, na medida em que foi possível à nossa condição de peregrinos e ao exercício de nosso espírito. Finalmente, no sexto degrau, chegamos a considerar no primeiro sumo Princípio, isto é, em Jesus Cristo [...] maravilhas que não se podem encontrar semelhantes na criação e que superam a penetração de toda inteligência humana. Agora resta à nossa alma transcender e passar, pela consideração dessas coisas, não apenas além deste mundo sensível, mas também além de si própria” (BOAVENTURA, 1999, p. 345).



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ATISERI, Dario; REALE, Giovanni. História da Filosofia. Antiguidade e Idade Média. 1. v. São Paulo: Paulus, 1990.

BAGNOREGIO, Boaventura de. Escritos filosófico-teológicos. Tradução de Luis Alberto De Boni; Jerônimo Jerkovic. Porto Alegre: Edipucrs, 1999.

BOEHNER, Philotheus; GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã. 10 ed. Petrópolis: Vozes, 2007.

BOUGEROL, Jacques Guy. Introduccion a San Buenaventura. Madri: Biblioteca de Autores Cristianos, 1984.

BRÉHIER, Emile. Historia de la Filosofia. Desde la Antiguedad hasta El siglo XVII. 1. v. Madri: Editorial Tecnos, 1988.

4 de agosto de 2012

“Fazei isto em memória de mim” (Lc 22, 19)

Caríssimo padre, neste dia em que a Igreja recorda a memória do sacerdote João Maria Vianney, padroeiro dos párocos, insigne testemunho da santidade sacerdotal e da doação da vida e do Amor, também comemora, com razão, a vida e o ministério de todos os seus ilustríssimos filhos, os sacerdotes do mundo inteiro, dispensadores da graça redentora de Deus e pais de um incontável número de pessoas. 

Como escolhidos para a construção do Reino dos Céus, é o sacerdote o amigo de Deus, pois descobre na intimidade do coração do Salvador o maior de todos os tesouros. Representa Cristo na Terra, trazendo-o, por suas mãos, aos nossos altares e, simultaneamente, intercede por nós e comunica-nos as incomensuráveis graças do céu. 

Ah! como é sublime a vida e a missão do sacerdote! É um dom incompreensível! É uma dádiva que cativa-nos, emociona-nos e convida-nos a consagrar também nossas vidas a Deus, à semelhança de tantos santos sacerdotes que doam suas vidas por causa do Amor. 

Sobretudo, caríssimo padre, é o vosso testemunho e o vosso exemplo que leva-nos a querer, como vós, dizer sim ao projeto de Deus. Como vós, compreendemos que o sacerdote oferece a Deus o que possui de mais valioso: a sua própria vida; e Deus oferece ao mundo, por meio do sacerdote, o que possui de mais valioso: a vida de seu Filho, nosso Senhor Jesus Cristo. Ainda, compreendemos como São João Maria Vianney, que Deus teria nos dado algo maior, se houvesse algo maior que Ele próprio. Porém, não havendo nada maior que Si mesmo, se doa aos homens pelas mãos do sacerdote. Que grandiosíssimo presente que nos é oferecido através de vossas mãos, pois é o sacerdote que realiza, todos os dias, o maior milagre da Igreja! 

O sacerdote nunca está sozinho. Na proporção em que fortalece, é fortalecido; sendo guia, é guiado; doando, recebe; perdendo, ganha. 

Ademais, muito se diz sobre a vocação sacerdotal e, com absoluta certeza, muito mais há a se dizer. Contudo, podemos nos amparar nas palavras de São Francisco de Sales, acerca da voz suave do Bom Pastor que chama: 

Aquele que pela manhã, tendo escutado atento longamente entre os arvoredos vizinhos um canto agradável de grande quantidade de canários, pintarroxos, pintassilgos e outros desses passarinhos, ouvisse enfim um mestre rouxinol que em perfeita melodia enchesse o ar e o ouvido com sua admirável voz, sem dúvida preferiria só este cantor silvestre a todo o bando dos outros. Assim, depois de ouvir todos os louvores que tantas criaturas diferentes, à porfia umas das outras, tributam unanimemente ao seu Criador, quando enfim se escuta o louvor do Salvador acha-se nele uma infinidade de mérito, de valor, de suavidade que excede toda esperança e expectativa do coração; e a alma então, como que despertada de profundo sono, fica de repente enlevada pelo extremo da doçura de tal melodia. 

Oh! ouço-a, é a voz de meu bem-amado, voz rainha de todas as vozes, voz ao pé da qual as outras vozes não passam de mudo e triste silêncio...” 

Caríssimo padre, o sacerdote é aquele que ouve e compreende a voz suave deste doce Rouxinol, Jesus Cristo. Ouvindo-a, deixa tudo para somente preferi-la e anunciá-la a todas as criaturas. 

Agradecemo-vos, como filhos espirituais, por toda a dedicação, amor, carinho e amizade que nos dedicais todos os dias. Como filhos e quase sem palavras para expressar tão profundo sentimento, desejamos dizer obrigado! Que Deus vos ilumine e abençoe; a Santíssima Virgem Maria vos guarde; e São José, patrono de toda a Igreja, vos acompanhe por todos os vossos caminhos. Que assim seja! 


Comunidade de Formação São José, na memória de São João Maria Vianney.

Por que eu, Senhor?

Por que eu, Senhor?
Existem coisas na vida
Que não consigo entender
Por exemplo: a vocação!
De pôr-se à disposição
Para um dia trabalhar
Na messe do Senhor!

Quem pode me explicar
Esta tendência premente
Que sufoca a minha alma
E com força me atrai
E embora lute e resista
Me aproximo sempre mais?

Por que eu, Senhor e não outro
Com maior capacidade
Inteligência e vontade
De lutar e de vencer?

Por que eu, que sou tão fraco
Miserável, pecador
Quando existem tantos jovens
Que são exemplos de vida
E testemunham sua fé
Vivendo tranquilamente
Sem tantas preocupações?

Vede minhas condições
Quais são as chances que tenho
De poder corresponder
A este ideal sublime
Que Tu me propõe, Senhor?

Mas não posso resistir
A esta Tua insistência
Que me chama sem cessar
O jeito é me entregar:
Eis-me aqui
Venceste, perdi!
E embora sendo indigno
Me coloco em Tuas mãos
Todo inteiro, sem reservas
Com muita simplicidade
Dê-me forma
Segundo a Tua vontade!

Mons. Wilson Galiani (1984)
Diretor Espiritual - Seminário de Filosofia São José